Furto de Cabos no Brasil: Causas, Modus Operandi e Impactos

O furto de cabos de cobre representa uma crise nacional, pois afeta diretamente setores essenciais como energia, telecomunicações, transporte, energia eólica e indústria. Como consequência, esse crime gera prejuízos milionários para o país.

Em 2023, por exemplo, o Rio de Janeiro registrou um aumento de 160% nos casos. Além disso, o problema se espalhou para São Paulo, o Nordeste, Minas Gerais e outros estados. Somente em 2024, os furtos causaram prejuízos de R$ 26 milhões e provocaram 54 mortes. No Nordeste, os criminosos também invadiram parques eólicos, o que comprometeu ainda mais a matriz energética da região.

Diante desse cenário preocupante, este artigo analisa o avanço desse problema no Brasil. Para isso, traz dados compilados ao longo dos últimos três anos sobre o furto de cabos de cobre em diferentes regiões do país.

O furto de cabos de cobre não é mais um crime isolado e afeta milhares de pessoas e diversas empresas no país. A cada dia, esse crime se torna uma cadeia bem estruturada e aprimorada, com envolvimento de facções como o Comando Vermelho e milícias. Avaliado em até R$ 9 mil por tonelada, o cobre é extraído, processado em galpões clandestinos e vendido a ferros-velhos ou até exportado de forma ilegal.

Setores Mais Afetados

Esse crime impacta diretamente setores essenciais da infraestrutura brasileira e prejudica, de forma crescente, o dia a dia de milhões de brasileiros:

Setor de energia 💡

Empresas como Light, Enel e Neoenergia já registraram perdas significativas. Criminosos danificam as redes elétricas, provocando interrupções no fornecimento de energia e gerando prejuízos milionários.

Setor de telecomunicações 📱

Os ladrões furtaram milhões de metros de cabos, o que afetou diretamente tanto usuários residenciais quanto empresas. Como resultado, as quedas de sinal e as falhas na internet se tornaram cada vez mais frequentes.

Setor de transporte público 🚌

Além disso, os furtos causam paralisações em metrôs, trens urbanos e linhas férreas. Esses transtornos afetam milhares de passageiros todos os dias, comprometendo a mobilidade urbana e a rotina de quem depende do transporte coletivo.

Horário e Locais Mais Visados

Na maioria dos casos, os furtos ocorrem durante a madrugada, especialmente entre 1h e 5h, quando a vigilância é mais fraca. No Rio de Janeiro, por exemplo, bairros como Centro e Tijuca são constantemente visados. Em São Paulo, a Zona Leste concentra grande parte das ocorrências.

Já no Nordeste, os criminosos preferem linhas remotas de parques eólicos, onde há menos presença de fiscalização.

Uso de Caminhões e Ferramentas

Para executar os crimes, as quadrilhas utilizam caminhões com adesivos falsificados, imitando veículos de empresas como a Light.

Além disso, contam com ferramentas industriais potentes, capazes de arrancar cabos de bueiros e túneis com rapidez. Esses recursos são empregados tanto em áreas urbanas quanto rurais, facilitando o deslocamento e a ação dos criminosos.

Disfarces e Enganações

Os criminosos também se disfarçam de técnicos, usando uniformes falsos de empresas como Enel, Vivo e outras do setor. No Rio de Janeiro, por exemplo, seis pessoas foram presas com uniformes falsificados durante a Operação Torniquete (2025).

Em São Paulo, os criminosos usaram disfarces da Vivo. Já no Nordeste, predominam disfarces de trabalhadores rurais, o que dificulta ainda mais a identificação dos suspeitos.

Técnicos Aliciados: Uma Ameaça Interna

Outro fator preocupante é o aliciamento de técnicos com acesso direto às redes. Quadrilhas miram principalmente terceirizados e temporários, que, muitas vezes, enfrentam dificuldades financeiras, ameaças ou são atraídos por subornos.

Como Evitar?

Faça a verificação de antecedentes antes de contratar

Realizar uma verificação de antecedentes, principalmente em técnicos terceirizados, é essencial. Essa etapa ajuda a identificar perfis de risco e evita o aliciamento por quadrilhas envolvidas no furto de cabos.

Atenção aos perfis mais vulneráveis

Técnicos em situação de instabilidade são os principais alvos. Criminosos costumam aliciar pessoas com dívidas, vícios, insatisfação no trabalho, desemprego recente ou contratos temporários.

Conheça as regiões com maior risco de aliciamento

No Brasil, técnicos temporários no Nordeste e terceirizados no Sudeste apresentam maior exposição a condições de vulnerabilidade. Esses grupos estão entre os mais recrutados por redes criminosas especializadas em furto de cabos de cobre.

Baixos salários favorecem o aliciamento

Além disso, a combinação de remuneração baixa e falta de suporte social torna esses profissionais mais suscetíveis ao suborno ou à coerção. Esse cenário facilita o acesso dos criminosos a informações e operações internas.

Segurança começa na contratação

Por fim, aplicar um processo seletivo criterioso não é apenas uma formalidade. É uma medida estratégica para reduzir ameaças internas, fortalecer a segurança operacional e proteger a empresa contra o furto de cabos desde o primeiro contato com o colaborador.

Após o furto, os criminosos desencapam e processam o cobre em galpões clandestinos. Depois, vendem o material a ferros-velhos e recicladoras, que compram por valores entre 50% e 70% do mercado.

Em seguida, transportam o cobre com placas clonadas e disfarces, escondendo-o entre cargas legalizadas. Por fim, revendem a metalúrgicas com notas fiscais falsas, dando aparência legal ao produto.

A lavagem do dinheiro acontece por meio de empresas de fachada, criptomoedas e exportações disfarçadas. Só no Rio de Janeiro, o crime movimentou cerca de R$ 200 milhões em 2024.

Um exemplo marcante ocorreu em Guarulhos (SP), onde uma transportadora usava caminhões com fundo falso para distribuir cobre furtado, movimentando R$ 1 milhão.

Participação de Facções Criminosas

Organizações criminosas exercem um papel central no furto de cabos:

• Comando Vermelho (CV): Atua no Rio de Janeiro, com base em comunidades dominadas.

• Milícias: Controlam territórios e mantêm redes de receptação estruturadas.

• PCC: Foca na receptação em São Paulo e Minas Gerais.

• Quadrilhas locais: Operam no Nordeste e Sul, muitas vezes sob proteção de facções maiores.

O furto de cabos compromete serviços essenciais, afeta milhões de brasileiros e causa prejuízos em diversas áreas — da economia ao meio ambiente.

Combater esse crime depende de ações integradas, com fiscalização rigorosa, regulação eficaz e parcerias entre setor público e privado.